Enquanto moradores enfrentam desafios diários com serviços públicos precários e infraestrutura deficiente, a realidade nos gabinetes das prefeituras de pequenas cidades goianas segue em outro ritmo — e com contracheques generosos. Um levantamento revela que 64 prefeitos de municípios com menos de 10 mil habitantes em Goiás recebem salários acima de R$ 20 mil por mês.
O caso mais estarrecedor vem de Ouvidor, cidade com apenas 7.500 habitantes, onde o prefeito Cebinha Nascimento (UB) tem uma remuneração bruta de R$ 30 mil mensais. O valor é superior ao salário do próprio governador de Goiás, Ronaldo Caiado (R$ 29.214,20), e coloca o município entre os mais descompassados quando se trata de relação entre tamanho populacional e salário de gestor público.
“Privilégio institucionalizado”
A indignação cresce entre moradores e especialistas. Em cidades com economia fragilizada e fortemente dependentes de repasses federais, a escolha por manter salários tão altos expõe o abismo entre a realidade do cidadão comum e os privilégios mantidos nas cúpulas municipais.
“O que justifica um prefeito de uma cidade com menos de 10 mil habitantes ganhar mais que o governador de um estado inteiro? Isso é um insulto à população e à lógica da administração pública”, disse um analista ouvido pelo Blog do Ricardo Nogueira.
Sem critério nacional, salários disparam
A Constituição estabelece o teto nacional para o funcionalismo (o salário de um ministro do STF), mas não há um teto proporcional ao porte do município para o cargo de prefeito. Isso abre brechas para situações absurdas como a de Ouvidor, onde o prefeito comanda uma cidade menor que muitos bairros de Goiânia, mas com vencimentos de chefe de Estado.
Além de Ouvidor, outras dezenas de cidades como Nova Roma, São Luiz do Norte, Campestre e Gameleira também exibem folhas de pagamento generosas para os chefes do Executivo local, mesmo enfrentando sérias limitações orçamentárias.

A conta vai para o cidadão
Em muitas dessas cidades, faltam medicamentos, o transporte escolar é precário e servidores recebem salários atrasados — enquanto prefeitos aprovam seus próprios salários com o aval de Câmaras Municipais subservientes ou omissas. A discrepância gera revolta e reacende o debate sobre a moralidade no uso de recursos públicos.
No Blog do Ricardo Nogueira, seguiremos acompanhando e denunciando esse tipo de distorção — porque o dinheiro público não pode continuar sendo tratado como propriedade privada de quem deveria servi-lo.