A decisão do ministro Alexandre de Moraes de agendar para o próximo dia 24 de junho uma acareação entre o general Walter Braga Netto e o tenente-coronel Mauro Cid marca um novo e tenso capítulo na investigação sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022. O ato, solicitado pela defesa do general, que está preso preventivamente desde dezembro do ano passado, visa colocar frente a frente duas peças-chave da engrenagem que sustentava o entorno de Jair Bolsonaro.
A alegação central dos advogados de Braga Netto é de que há “divergências relevantes” entre os depoimentos prestados por Mauro Cid, delator premiado e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e o que consta na versão apresentada por seu cliente. Essa estratégia revela não só um esforço da defesa para minar a credibilidade da colaboração de Cid com a Justiça, como também indica uma possível ruptura no silêncio outrora combinado entre os aliados do ex-presidente.
A acareação é um procedimento incomum, mas poderoso. Ao colocar os dois protagonistas cara a cara, com o olhar da Justiça e o peso da verdade pairando sobre a mesa, espera-se que surjam mais do que esclarecimentos: podem vir revelações, contradições desmascaradas e, quem sabe, a definição do rumo de um dos processos mais sensíveis da história política recente do Brasil.
Braga Netto, ex-candidato à vice-presidência na chapa de Bolsonaro, nega envolvimento na trama golpista. Já Mauro Cid, em sua delação, teria detalhado reuniões, estratégias e nomes ligados diretamente ao planejamento de um rompimento institucional. Colocá-los na mesma sala, diante de perguntas diretas, pode ajudar a Justiça a delimitar quem mentiu, quem omitiu e quem, de fato, arquitetou os bastidores da tentativa de subversão democrática.
Mais do que um confronto de versões, essa acareação será um teste de resistência entre dois homens que, por muito tempo, atuaram sob o mesmo projeto de poder. O Brasil, atônito, acompanha. A democracia, observadora atenta, também.