Enquanto Posso Falar
Por Ricardo Nogueira
O Brasil assiste, mais uma vez, a um espetáculo lamentável protagonizado por um político que fez fama explorando a dor alheia nas redes sociais. André Janones (Avante), deputado federal por Minas Gerais, agora figura no centro de uma gravíssima denúncia que mancha de vez o verniz de “defensor dos vulneráveis” que sempre tentou ostentar.
A Justiça mineira concedeu medidas protetivas à prefeita de Ituiutaba, Leandra Guedes (Avante), ex-companheira de Janones, após constatar indícios de violência psicológica e social cometidas pelo parlamentar. A acusação é repulsiva: uso de imagens íntimas da prefeita — obtidas sem consentimento durante um relacionamento encerrado em 2018 — para chantagem e manipulação política.
Sim, o mesmo Janones que se vende como progressista e paladino da justiça social estaria coagindo uma gestora municipal a demitir servidores de sua confiança. Um episódio grotesco exposto nos autos revela o envio de uma foto íntima da prefeita a um secretário municipal, em uma tentativa sórdida de forçá-la a exonerar um aliado. Esse tipo de conduta não é apenas antiética — é criminoso, covarde e misógino.

A decisão, amparada na Lei Maria da Penha, determina que o deputado mantenha distância de pelo menos 300 metros de Leandra e proíbe qualquer tipo de contato. A Justiça ainda autorizou prisão em flagrante em caso de descumprimento. É o mínimo diante do que se delineia como um caso claro de chantagem emocional e abuso de poder.
Janones, que emergiu como fenômeno digital e usou causas populares para ascender politicamente, revela agora sua verdadeira face: um manipulador moralmente falido, disposto a tudo para manter influência e controle. Um luxo moral, sim — mas daqueles que só a decadência da política brasileira poderia produzir.
A esquerda, que muitas vezes o acolheu como aliado conveniente, precisa fazer seu mea culpa. Janones jamais foi exemplo de coerência ou integridade. Sua ascensão se deu no terreno pantanoso da demagogia digital, onde a lacração importa mais que a verdade, e o espetáculo se sobrepõe à ética.
Leandra Guedes, que enfrenta agora essa tormenta pública, merece respeito e apoio — não só como vítima de um abuso escandaloso, mas como mulher que ocupa um espaço de poder ainda dominado por figuras autoritárias como Janones.
É hora de parar de tratar vilões como heróis de ocasião. O Brasil precisa de líderes de verdade, não de oportunistas que usam a bandeira da justiça para esconder suas próprias vergonhas.
