Desde que a socióloga Rosângela da Silva, mais conhecida como Janja, assumiu o papel de primeira-dama do Brasil, a função ganhou um novo contorno: não o de representação institucional moderada, mas o de palco para performance pessoal e ativismo teatral. Janja parece decidida a transformar o cargo em holofote — ainda que para isso precise atropelar o bom senso, a liturgia do cargo e a paciência da opinião pública.
Enquanto o país enfrenta desafios monumentais — violência urbana, inflação, crise na educação, colapso da saúde pública —, a primeira-dama se ocupa em guerrear nas redes sociais, censurar vozes dissonantes e tentar ditar o tom de um governo que já sofre por excesso de vaidade e carência de resultados.
Militância sem conteúdo
A tentativa de emplacar Janja como uma espécie de “nova Evita brasileira” seria cômica, se não fosse trágica. Entre viagens oficiais com poses ensaiadas, pronunciamentos sobre causas genéricas e participações forçadas em eventos de Estado, o que se vê é uma figura mais preocupada com estética do que com ética. Mais engajada em narrativas do que em realidades. E, acima de tudo, mais interessada em controlar a opinião alheia do que em contribuir com alguma solução concreta.
Seus atos públicos frequentemente geram mais polêmica do que apoio. A cada aparição, um novo ruído. A cada fala, uma nova divisão. O estilo performático esbarra em uma constante necessidade de afirmação, em que o discurso progressista se confunde com autoritarismo disfarçado.

O uso da máquina pública como extensão pessoal
Janja já deixou claro que não se contenta com o papel simbólico. Ela quer ser protagonista — custe o que custar. E para isso, parece não hesitar em usar a estrutura do Estado como suporte para uma espécie de cruzada pessoal. O que antes era ativismo virou aparato oficial. O que deveria ser representatividade virou palco para censura.
Quando colunistas, influenciadores ou até parlamentares a criticam, não raro surge uma mobilização institucional em sua defesa — como se discordar da primeira-dama fosse um ato de crime contra a pátria. A instrumentalização do judiciário e da comunicação estatal para proteger a imagem de uma figura pública que optou por se colocar sob os holofotes é, no mínimo, indecente.
O Brasil não precisa de uma rainha do Instagram
Janja não foi eleita. Mas age como se o Planalto lhe pertencesse. Enquanto isso, o povo observa, atônito, uma primeira-dama que parece mais preocupada com sua imagem internacional do que com o sofrimento real de brasileiros esquecidos.
Não se trata de misoginia — trata-se de responsabilidade pública. De saber a hora de falar e, principalmente, a hora de se calar.
O Brasil precisa de líderes — não de celebridades políticas.