Desta vez, o caminho foi diferente. A carona não era apenas entre cidades e estados, mas entre gerações, experiências e fé. Ao meu lado, Jardel Sebba — médico, político, pecuarista, homem de família e, acima de tudo, um ser humano íntegro, honrado. Entre Catalão-GO e Vazante-MG, percorremos juntos cerca de 360 km de estrada (ida e volta), entre asfalto e terra, rumo a um encontro que transcende o físico: o reencontro de Jardel com seu filho, o deputado estadual Gustavo Sebba, em sua tradicional caminhada de fé, já há sete anos ininterruptos.
O trajeto, embora duro e exigente, foi generoso em paisagens: o cerrado em flor, cachoeiras discretas, a imponente Serra do Pilão e fazendas que respiram trabalho e história. As cidades e vilarejos nos acolheram como antigos conhecidos: Pires Belo, Santo Antônio do Rio Verde, Guarda Mor, Claro de Minas, até chegarmos a Vazante. No carro, um grupo pequeno, mas intenso: eu Ricardo Nogueira, Jardel Sebba, Anna Sebba e Yan Mesquita.
No meio do caminho, um pneu furado, estradas esburacadas, falta de sinalização… tudo isso dividindo espaço com romeiros de toda parte — a pé, de bicicleta, a cavalo, de mula. Uma cena quase bíblica, viva, pulsante. Mas foi dentro do carro que vivemos talvez o maior presente da viagem: um bate-papo sincero, leve, cheio de confidências, risos e até desabafos. Histórias de vida surgiram espontaneamente, como se aquele trajeto nos convidasse a abrir o coração.
Ao chegarmos ao Santuário de Nossa Senhora da Lapa, Jardel ainda encontrou tempo e energia para apresentar seu programa ao vivo pela Rádio Sucesso de Catalão (O Programa do Jardel). Missão que seria tranquila, não fosse o carinho insistente de quem o reconhecia, abraçava e agradecia — um reflexo do respeito conquistado ao longo de uma vida pública dedicada ao bem comum.
O gabinete móvel do deputado Gustavo Sebba virou estúdio de rádio e palco de entrevistas emocionantes. Depois, seguimos em silêncio até a gruta da aparição de Nossa Senhora da Lapa. Ali, o momento de fé se impôs: agradecemos pela vida, pelo caminho, pelas conquistas, pelas superações.
Na volta, com a fome apertando, procuramos um lugar para almoçar. Claro de Minas? Tudo fechado. Guarda Mor? Também. Cachorro-Sentado? Nada. A salvação veio em Pires Belo, no restaurante do famoso Tião Galinha. Já fora de horário, mas não fora de hospitalidade. Nos convidaram a ir direto à cozinha — e ali, entre panelas, cheiros e sorrisos, tivemos uma das refeições mais saborosas da viagem.
De sobremesa? Mais conversas. Mais trocas. Mais vida.
Já no fim da tarde, de volta a Catalão, me veio uma pergunta que parecia precisar ser feita:
— Jardel, você se considera um homem realizado?
A resposta veio sem hesitação:
— Claro, totalmente.
E então, com serenidade nos olhos, ele resumiu sua trajetória: o respeito aos pais, a realização na medicina, o orgulho da família, a dor da perda do filho Jardelzinho, compensada em parte pelo amor dos outros três filhos e dos netos. Falou da carreira política com gratidão e da vida atual com paz: passeios, descanso na fazenda, cuidado com o gado branco e o apoio — agora informal, mas sempre presente — ao filho Gustavo.
E ali, naquela simples carona, compreendi: certas viagens são maiores por quem nos acompanha, não apenas pelo destino. Obrigado, doutor Jardel. Que privilégio é poder ouvir, aprender e admirar ainda mais quem tem tanto a ensinar — com humildade, ética e humanidade.

