Goiânia — Como já era esperado por muitos, o Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO) decidiu aliviar a barra do governador Ronaldo Caiado (União Brasil) e do prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (União), mesmo diante de indícios claros de abuso de poder político. Por unanimidade, os desembargadores derrubaram parcialmente a decisão da juíza Maria Umbelina Zorzetti, que havia tornado os políticos inelegíveis por 8 anos — uma sentença que, à época, reacendeu a esperança de justiça eleitoral no estado.
A ação, movida pela chapa derrotada de Fred Rodrigues (PL), apontava a realização de eventos no Palácio das Esmeraldas, sede do governo goiano, como tentativa de manipular o processo eleitoral logo após o primeiro turno. A juíza da 1ª Zona Eleitoral viu ali um abuso de poder claro e direto, com respaldo jurídico no artigo 22 da Lei de Inelegibilidades (LC 64/90), o que levou à cassação da chapa Mabel-Cláudia Lira e à inelegibilidade de Caiado.
No entanto, como manda a cartilha dos protegidos do sistema, o poder político falou mais alto. No TRE-GO, os desembargadores seguiram o relator José Mendonça e deram o tradicional “jeitinho”: mantiveram a multa simbólica, mas liberaram a ficha de Caiado e Mabel, lavando as mãos quanto à gravidade do crime eleitoral cometido.
O argumento usado para o perdão? Que os eventos no Palácio das Esmeraldas “não comprometeram as eleições municipais”. Uma justificativa frágil e condescendente, que ignora o simbolismo e o peso de ações governamentais em período eleitoral, sobretudo em um estado onde a máquina pública historicamente serve a interesses privados e eleitorais.
É o velho roteiro da impunidade: o crime é reconhecido, mas a pena é suavizada ao ponto de se tornar irrelevante. Mais uma vez, a Justiça Eleitoral falha em ser exemplar, mostrando que quem tem poder e influência segue acima da lei.
Em Goiás, a lição é clara: o abuso existe, mas se você estiver nos corredores certos, sempre haverá alguém pronto para “dar um jeito”. E assim segue a democracia brasileira — frágil, seletiva e cada vez mais desacreditada.